quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Papel, Cartão e Petróleo - Pra Frente Brasil

O Brasil do futuro lê jornal de papel, paga com cartão e queima gasolina. O mundo lá fora lê nas telas, paga com telefone e usa eletricidade gerada, cada vez mais, por tecnologias não-poluentes.
Ultimamente nós, brasileiros, demos de olhar para o mundo lá fora com um certo desdém. Da marolinha do Lula, ao "mercado brasileiro para ser desfrutado por brasileiros" do Mantega, parece que o mundo inteiro tomou uma contra-mão e só nós pegamos o caminho certo e, pasmem, sem trânsito, rumo ao estrelato e aos palcos do primeiro mundo.
Talvez. Talvez não. É relativamente fácil falar em "solidez do sistema bancário" que cobra os juros mais altos do mundo e se mantém sólido às custas da fragilidade do seu cliente cativo - o consumidor brasileiro.
É legal falarmos em explosão de um mercado de consumo olhando maravilhados para massas que, finalmente, no século XXI, conquistaram o direito de comprar sabão em pó, escovar os dentes, comprar máquina de lavar, até comprar casa, talvez um carro e, quem sabe, pagar a conta de luz mais cara do mundo e o combustível e os impostos mais caros do mundo.
Mas, enquanto a gente comemora isso, o resto do mundo não está parado.
A contra-mão que alguns outros países escolheram passa pela tecnologia, pela inclusão dos já tão incluídos consumidores.
O livro de papel ainda é uma novidade por aqui (é só ver o sucesso das bienais), o que é até salutar. Afinal, se o Brasil ainda é um dos poucos mercados do mundo onde os jornais crescem de circulação é porque as pessoas finalmente têm acesso à informação e à leitura. Mas é também porque as pessoas não têm, nem terão tão cedo, acesso à Internet com um mínimo de qualidade e generalizado, nem à tecnologia dos e-readers, ou dos tablets. Já vendemos 196 mil tablets, nos informa o varejo. Puxa. O governo promete o iPad brasileiro e a Positivo lança sua versão popular a R$999,00. Uau. Agora vai.
A Amazon vendeu, sozinha, mais de 17 milhões de Kindles este ano e lança a nova versão hoje, para vender 26 milhões ano que vem. Um negócio que era simplesmente inexistente em 2007.
No Brasil, estimou o congresso da INMA (International Newspaper Marketing Association), o jornal impresso como conhecemos hoje deve perder relevância em 2027.
Enquanto por aqui tanta gente comemora a entrada no mercado de consumo, compra suas primeiras carteiras e consegue seus primeiros cartões de crédito, entra no ar nos Estados Unidos - a potência decadente - o primeiro comercial da R/GA para o Google Wallet.
E o que é o Google Wallet? O fim da carteira, como mostra George Costanza no divertido comercial. Com o Wallet, você concentra no seu Smartphone os pagamentos com cartão de crédito, seus ingressos para espetáculos, eventos esportivos, pagamentos em lojas, supermercados, etc, usando uma tecnologia segura, chamada NFC, ou Near Field Communication.
E a gente? vai levando, batendo no peito pra falar do pré-sal, discutindo (mais um) imposto para a saúde e sobretaxando carros, bicicletas e tênis importados. Esta é a nossa noção de política de mobilidade urbana. Mas essa fica para depois.
E para acompanhar uma boa leitura no seu Kindle, ou no seu iPad, deixe-se levar pelos aromas de um bom Jerez Palo Cortado, que promete a suntuosidade de um Oloroso doce e, malandramente, revela um paladar seco, limpo e surpreendente.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

General Mills, larica, uma dose de coragem e boa propaganda

Esta certamente não passaria em nenhuma pesquisa. E nem seria considerada na maioria das grandes empresas. E não foi uma start-up da web, nem o produto era para jovens, mas um gigante e conservador bancou a ideia.
General Mills é uma gigante multinacional do setor de Food CPG (Consumer Packaged Goods). O que quer dizer isso? quer dizer que eles brigam por mínimas porcentagens de margens, mercados disputadíssimos, em uma arena que não aceita players pequenos. Pouco conhecidos por aqui, têm algumas marcas de maior prestígio nos EUA. Green Giant, Pillsbury, Progresso, Betty Crocker, Cheerios e Wheaties, são algumas.
E não é que vem da General Mills uma campanha corajosa e muito divertida, que rompe com todos os estereótipos aceitos, pesquisados e repesquisados por todas as empresas do setor? Vale a pena dar uma olhada. Além de super bem pensada e produzida, a campanha é inovadora no conteúdo.
O produto é um novo brownie light da marca Fiber One, que tem mais fibras. O público-alvo é a população dos chamados baby-boomers (a geração que viveu o auge do sexo, drogas e rock n' roll dos anos 60). Nada de mulheres em forma, famílias felizes, cenas de lazer ao ar livre, etc. A campanha é estrelada por Cheech e Chong, uma dupla conhecida por filmes totalmente non-sense em que vivem atrás de maconha e altos baratos.
O formato também é divertido e diferente: o (falso) lançamento do novo filme da dupla: Magic Brownie Adventure. Para entender bem a coragem da General Foods, dê um Google para magic brownie e vc vai ver o que eu quero dizer. Só, meu...
Os resultados de engajamento online e views dos vídeos já começam a aparecer. Ideia genial da agência (Publicis Modem), mas méritos de um cliente que não tem medo de errar, de tentar, para inovar.
Cheers! Vamos de Pisco Sour, o drink-símbolo do Peru, feito com pisco, um destilado de vinho feito também no Chile. Como me ensinou já há alguns (muitos) anos um senhor muito simpático, barman do histórico hotel Gran Bolívar, em Lima, o pisco sour leva pisco, suco de limão, açúcar, gelo (familiar?) e uma clara de ovo crua. Tudo junto e bem batido na coqueteleira. Depois, duas gotinhas de angostura por cima. Hay que porbarlo!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Criatividade tem idade?


Steve Jobs tem 56 anos. Mark Zuckerberg tem 27. Quem arriscaria dizer qual dos dois é mais criativo? Agora com Jobs fora da Apple, a grande pergunta é como ficará a empresa que revolucionou vidas e mercados sem o seu maior inovador?
É no mínimo irônico pensar que tantas pessoas (são mais de 740.000 menções no Google, contra quase 30.000 do fundador do Facebook) dêem tanta importância a um homem de 56 anos. Afinal, se ele não é nem da Geração X, o que dizer da Y?
Por outro lado, Mark Zuckerberg tem apenas 27 anos e criou o Facebook lá pelos seus 20 anos (sete anos? Caramba! O facebook já está bem velinho, né não?!)
Chuck Close, pintor americano, nasceu em 1940 e, mesmo parcialmente paralizado desde 1988, segue sendo uma das maiores forças criativas da arte contemporânea (vale a pena ver aqui e emoutros sites e ao vivo, no MoMA e  no Metropolitan Museum, em Nova York).
O importante desta história é entender que não há idade para a criatividade.
Outro dia em um grupo do Linkedin, debatia-se exatamente isto: existe uma idade limite para decretar que o sujeito não tem mais capacidade de gerar ideias criativas no mundo digital?
Acredito que não. E acredito que há um grande engano nas avaliações que o mercado faz das chamadas Gerações X e Y, assim como tantas antes e as que estão por vir.
Tenta-se classificar as pessoas de acordo com os anos de seus nascimentos e atribuir a elas um padrão cultural e comportamental homogêneo. A gente sabe que não é bem assim que acontece na vida real. Como classificar em um mesmo subgrupo pessoas nascidas em 1965 e 1981, por exemplo? Como entender que apenas quem nasceu depois disso é geração Y, porque foi alfabetizado com computadores e Internet?
Posso dizer que gente da minha geração já saiu da escola aprendendo a mexer com computadores pessoais, graças à geração chamada de baby-boomer, do Steve Jobs, por exemplo. A Internet, e-mail, as primeiras redes sociais (sim, o Orkut e o Facebook não foram os primeiros) fazem parte da cultura de uma boa parte desta geração. Será que, por receber o rótulo de Geração X, as pessoas desta geração são menos capazes de pensar o digital?
Larry Page e Sergey Brin (leia-se Google) que o digam. Só para constar, eles nasceram em 1973...
A criatividade não está ligada à idade. Nem para menos, nem para mais. Nem a línguas, nem a fronteiras. Nem a barreiras físicas. Hoje isto já é muito mais percebido do que antes. Não se deve confundir idade com capacidade criativa. E também não se deve impedir a renovação e a criatividade de prosperarem. Na essência, criatividade não é nada sem propósito. O essencial é conhecer as pessoas, a essência do drama humano e seus caminhos. E isso não muda. Podem mudar os meios, os veículos, mas não deixamos de ser humanos porque pertencemos à geração X, Y, ou Baby-Boomer, ou qualquer outra coisa.
Martin Weigel, Head de Planning da Wieden + Kennedy Amsterdam define bem este problema do ponto de vista de um planner (no blogunplanned – leia aqui): “O contexto no qual trabalhamos e as maneiras como empregamos podem estar mudando. Mas sempre mudaram, e sempre mudarão. Então, creio que o que vai assegurar nosso futuro já é verdadeiro hoje, assim como era há 40 anos.” 
Abra um branco Gewurztraminer (pode ser da Alsácia, mas já temos bons chilenos e até brasileiros) geladinho – para acompanhar estas noites de inverno com calor de quase 30 graus – e inspire-se. Boas ideias!