Steve Jobs morreu. O mundo inteiro lamentou. Todo mundo e mais um pouco de repente tem uma história para contar sobre Jobs. Pessoas tornam-se emotivas, à beira de chorar ao relembrar seu primeiro Mac, o primeiro iPhone, ou começam a se vangloriar: “Eu tive um Newton!”, como esse tipo de coisa lhes desse uma conexão, um laço de intimidade com o homem e sua mente.
E por que isso? Por que o mundo está chorando a morte de um homem que era o CEO da maior corporação do mundo? As corporações não deveriam ser monstros maus, desprovidos de alma, que esmagam o homem comum? Não a Apple. A Apple nos fez sentir algo mais do que pessoas comuns. A Apple nos fez sentir que poderíamos compartilhar o poder. O poder do “eu” – também “i” em inglês. O meu poder. Conferido a nós pelo homem em pessoa a cada lançamento de produto.
Como isso foi acontecer? Toda era tem seus heróis. Steve Jobs foi uma espécie de personificação do herói clássico. Ele não poderia ter esoclhido uma reencenação mais perfeita da Jornada do Herói: os anos de formação, a batalha contra os gigantes, a queda e a traição, o retorno ao lar para liderar seu povo até a terra prometida.
Foi uma jornada quase messiânica, a empreendida por Steve. E o fato de seu nome ser Jobs (trabalhos) foi a perfeita coincidência. Ele viveu tudo isso. E conquistou tudo. Com a faísca da genialidade a cada momento. Ele sabia o que estava fazendo. Ele tinha perfeita consciência de que o seu não era um desafio comum, e que sua popularidade com as pessoas não era apenas por causa de produtos, ou marketing. E ele se assegurava de que tudo passasse o sentimento correto. tudo. Não apenas os produtos, a comunicação, mas suas aparições, suas palestras.
Desde o início, a história se desenrola como uma epopéia: o jovem que inventou um computador mágico em uma caixa de madeira que transformaria o mundo. Ao seu lado, seu melhor amigo e feiticeiro fiel. Ambos deixam suas casas para empreender uma busca contra os dragões que ameaçam escravizar a humanidade. A grande, fria corporação azul (big blue é um apelido da IBM). Como o próprio Steve Jobs afirmou no lançamento do Macintosh e do agora histórico comercial 1984 da Chiat, Day, dirigido por Ridley Scott. Ele forjou alianças com as pessoas ao identificar claramente o inimigo comum e ao tomar destemidamente a liderança da luta contra ele. Mas – e isto é fundamental para o seu sucesso – ele entregou o que prometeu. Os produtos, a tecnologia e sua condução da luta tocaram e inspiraram a imaginação de incontáveis defensores, advogados da sua marca. Ele era legítimo. Autêntico. Os dragões podiam até não ser tão terríveis, afinal, mas ele certamente nos fez sentir como se fossem.
Então, ele caiu em uma emboscada. Foi traído. Expulso do seu próprio palácio, da sua terra e do seu povo. Por alguns erros próprios, algumas alianças ruins, algumas escolhas infleizes. O herói tinha caído. Mas o mundo todo observou maravilhado quando ele começou a se levantar. Vagarosamente. De joelhos, ele tomou sua espada e conseguiu ficar novamente de pé. E agora, o que vem a seguir? (next, a marca que ele criou quando deixou a Apple) todos se perguntaram. A batalha que se seguiu foi lenta, sangrenta e quase destruiu o palácio que ele havia construído anos antes.
Mas ele triunfou e retornou para o seu povo. Mas a luta não estava terminada. ela não pode terminar, porque a chama precisa ser mantida acesa. O inimigo original havia sido derrotado até à morte (ao menos no mercado dos computadores pessoais). Mas havia um novo inimigo, ainda mais terrível – e também azul. Um dragão nos portões do palácio. Seu nome: Microsoft. Ele tinha uma arma poderosa, roubada das terras de Apple: o Windows.
Mas o nosso aprendiz de feiticeiro havia evoluído para além disso. Com seus novos poderes, ele levou seu povo para muito além dos domínios do computador pessoal. Ele abriu os mundos da música, entretenimento, mágicas telas sensíveis ao toque. Novamente dando às pessoas a sensação do poder, agora em pequenos gestos que poderiam mudar o mundo. Todo o poder aos nossos dedos. Puro encantamento.
Então, o líder anuncia: a luta terminou para ele. Ele está renunciando. Sua saúde frágil como uma testemunha de sua vida de lutas, de sua longa e gloriosa busca. Ele lutou por nós. No processo, acabou por transformar sua empresa na corporação mais valiosa do mundo.
Este é o poder de uma história. Como Joseph Campbell – antropologista cultural americano – diria: o poder puro do mito.